Fadas e lutas!

Fadas e lutas!

Clemente Ganz Lúcio[1]

O primeiro semestre de 2017 já é passado e a fada da confiança, essa criação do mercado, fugiu ou nem apareceu. Sem o mágico pó deste ser alado, empresários e o governos tupiniquins não foram encantados para tomarem a decisão de investir para que o país retomasse o crescimento com geração de emprego.
Ao longo de 2015 e 2016 o atalho parlamentar para afastar a Presidenta Dilma justificava-se, como remédio custoso e amargo, para mobilizar a fada da confiança que encantaria o mercado para transformar a dinâmica econômica do país.
Um ano de mandato tampão e o que o governo entrega para a nação é uma inflação girando na casa dos 3% ao ano, louvada como resultado da robustez da política econômica, e o crescimento trimestral de 1% do PIB puxado pela safra agrícola, que no segundo trimestre já acabou.
A inflação baixa é um sintoma de uma economia que se encontra na UTI, a um passo da falência geral dos órgãos. Recessão, a beira da depressão, derruba qualquer inflação. As mais altas taxas de juros do planeta alimentam os fáceis vultuosos lucros do mercado financeiro e as fadas jogam a economia no abismo. O resultado concreto é que o país convive com os menores níveis de investimentos públicos e privados das últimas décadas; famílias e empresas endividadas e arrochadas pelos juros escorchantes; desemprego de 14 milhões de pessoas, aumento da informalidade, precarização e arrocho salarial; queda do PIB per capita superior a -9%; receita fiscal descendo a ladeira e grave crise das contas públicas; empresas fechando; ativos econômicos sendo vendidos “a preço de banana”. Nesse quadro, daqui a pouco o governo comemorará deflação!
A crise política só se agrava com novas revelações da extensão da corrupção que há décadas delapidam o erário. Há um imbróglio político considerável que empurra a economia para o pântano. Agora vem o novo argumento, daqueles acostumados com atalhos, que a economia está se descolando da política e que é preciso alimentar a confiança com as reformas, para dar tração ao crescimento. O atalho de 2016 conduz o desenvolvimento do país para o abismo.
Temos que olhar para frente e construir o futuro, motivo pelo qual, já dizia Marx, o sentido da vida é a luta!  Garantir que as eleições façam a renovação de governos e parlamentos, com mandatários qualificados para o diálogo social e preparados para articular acordos em torno de um projeto de desenvolvimento nacional, será um enorme desafio. Um novo governo que assuma com grande apoio no Congresso, que tome decisões céleres e corretas na perspectiva da retomada do crescimento, da arrumação da economia, do Estado e do governo ao longo de 2019. A economia respondendo com a confiança do investimento que é oriunda da visão concreta de formação de demanda futura, oriunda de decisões e inciativas corajosas em termos de política econômica e industrial. O investimento publico puxando com força a retomada, etc. Nesse breve quadro de tarefas e desafios, se cumpridos à risca, poderemos torcer para que 2020 venha a ser um ano de retomada. Até lá, resistir, resistir, resistir e lutar para viabilizar e sustentar uma longa e dura transição.
A resistência exige impedir que o governo destrua, desmobilize e venda os ativos essenciais para conduzir nossa estratégia de desenvolvimento, bloqueando inclusive as múltiplas iniciativa que tentam descaracterizar as instituições que sustentam a formação de capacidade produtiva nacional.
Lá na frente haverá uma longa luta para a reconstrução dessas capacidades institucionais e para a reversão de decisões desastrosas, evidentemente, se a escolha das urnas apontar nessa direção e, portanto, for efetivamente portadora de legitimidade para reconstruir um projeto de desenvolvimento nacional. Essa é e será uma disputa central para os trabalhadores, para a qual a fada que nos encanta deve ser a luta!


[1]Diretor técnico do DIEESE.

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