Três desafios e um sentido


Três desafios e um sentido. 
Clemente Ganz Lúcio[1]

Há um ano está em curso no Brasil a realização de profundas transformações institucionais que reorientam radicalmente a estratégia de desenvolvimento do país. Iniciativas legislativas do Governo e do Congresso Nacional, entre outras medidas, reconfiguram o marco legal que permite ao mercado conduzir as estratégias das empresas na produção e distribuição econômica, concentrado renda e riqueza. Uma país que reúne ativos naturais e econômicos valiosíssimos, encontra-se à venda e barato. O Estado indutor e coordenador do desenvolvimento, segue sendo desmontado. Empresas estatais e serviços púbicos são vendidos, transferidos, restringidos ou eliminados. Empresas privadas, vendidas e, depois, algumas vezes, fechadas. Direitos subtraídos, proteção social fragilizada, insegurança e desemprego. Intencionalmente se descarta a soberania nacional e, para isso, fragilizam-se as instituições capazes de reagir a esse desmonte e impedir essa entrega. Trata-se de um projeto que a sociedade não escolheu e que se impõem.
Resistir e mudar o rumo para um outro projeto é tarefa urgente e que será longa. Para isso, há que enfrentar, simultaneamente, três desafios.
Lutar para produzir conhecimento capaz de explicar criticamente a situação presente e seu movimento e, ao mesmo tempo, gerar capacidade cognitiva para enunciar o conteúdo e o sentido de um outro movimento de produção econômica, social, política e cultural para um verdadeiro projeto de desenvolvimento nacional.
Lutar para que as organizações e instituições sejam capazes de mobilizar e promover o debate público sobre as escolhas necessárias para um projeto de desenvolvimento nacional, realizadas no espaço da democracia representativa e participativa, .
Lutar para que a intervenção na realidade produza capacidade de estruturar, articular e coordenar a força social, política e econômica necessária para promover um projeto de desenvolvimento nacional, enunciando a maneira como se realizará a produção e distribuição econômica para promover o bem estar social, a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental.
Há séculos que lutamos. Por quê? A resposta foi dada em 1880, na Inglaterra. Marx e família – esse excepcional intelectual capaz de produzir conhecimento critico para intervir na realidade e pensar um outro projeto de sociedade - estavam no balneário de Ramsgate, Inglaterra, em agosto. Jenny, sua esposa, já muito doente. Marx não gostava de dar entrevistas e as evitava. Mas, supreendentemente, convidou John Swinton, um jornalista reformista liberal de Nova York para visitá-lo. A entrevista foi longa e Swinton ficara aguardando a tarde inteira o momento de fazer uma pergunta a Marx sobre o que o jornalista chamou de “a lei definitiva do ser”. Por fim, surgiu uma oportunidade, e ele perguntou: “E qual é essa lei?” Marx olhou para o mar agitado e a multidão na praia e respondeu: “A luta!”.



[1]Diretor técnico do DIEESE.

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