Diálogo sobre o futuro do trabalho

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Clemente Ganz Lúcio[1]

 

As máquinas estarão cada vez mais presentes no futuro da humanidade, por escolhas que poucas pessoas fazem e da qual a grande maioria não participa. Essas decisões colocam potencialmente a tecnologia presente em todas as atividades humanas e as transformam, a tal ponto que a própria humanização – o tornar-se humano, pessoa e cidadão/cidadã ao longo da vida - está em transformação. O trabalho também muda, seja porque as tarefas cotidianas podem contar com o auxílio de cada vez maior de máquinas agora dotadas de inteligência artificial, seja porque a tecnologia está presente em todas as ocupações, transformando os postos de trabalho e as profissões.

 A industrialização expande as tecnologias para todas as atividades humanas e transforma as atividades produtivas em todos os setores econômicos. Há um novo mundo produtivo irrompendo na base econômica que ganha rapidamente dominância. O velho mundo coexiste com o novo, mas perde hegemonia.

Essas e outras reflexões fizeram parte do 1º Seminário “O Futuro do Trabalho”, evento articulado e promovido pelas Centrais Sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB e pela CNI. Trata-se de um evento inédito na última década, no qual os trabalhadores e os empresários se dispuseram a debater em conjunto o papel da indústria no desenvolvimento nacional e os impactos da inovação tecnológica, com destaque para o mundo do trabalho.

Os trabalhadores entendem que essas transformações exigem projetos e escolhas que coloquem a inovação tecnológica à serviço do bem coletivo, subordinada ao interesse geral da sociedade, voltada para promover boas condições de trabalho e emprego para todos, no qual a industrialização esteja voltada para produzir bem estar social com equilíbrio e sustentabilidade ambiental.

O sentido de um projeto nacional que estrategicamente induz um tipo de crescimento econômico que reindustrializa o sistema produtivo e que promove o desenvolvimento social é a essência do esforço de diálogo social entre organizações que pensam e atuam em campos diferentes. O movimento para promover esse diálogo também se orienta pelo sentido aplicado de iniciativas compartilhadas capazes de protagonizar mudanças.

Por isso, nesse primeiro encontro se decidiu pela construção de uma agenda comum a ser celebrada nos próximos dias, agenda esta que se transformará em um plano de ação estratégico e compartilhado. Daqui há um ano faremos um segundo encontro para aprofundar os debates e avaliar os resultados alcançados no primeiro ano de trabalho conjunto.

Diante dessa inciativa há os céticos que, olhando para o passado, encontram motivos de sobra para tal. Há, de outro lado, o futuro e os desafios que explodem no presente e há, diante disso, aqueles que insistem que um dos caminhos é do diálogo social, mesmo quando há motivos para dele duvidar. Como o futuro é inédito e há utopias – aquele sonho que nos move e que insiste em afirmar que o inexistente pode ser criado e produzido -, seguimos em frente, apostando e investindo, mesmo diante das enormes dificuldades, na organização e na mobilização e, ao mesmo tempo, na promoção em um tipo de diálogo social que fortalece as instituições para que deem, juntas, tratamento aos problemas e desafios.



[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE.

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