Diante do tsunami Covid-19, o que fazer? Recomendações para dirigentes sindicais


Clemente Ganz Lúcio[1]

 

            Escrevo este artigo convidado a apresentar recomendações para dirigentes sindicais atuarem no enfretamento dos atuais múltiplos desafios. Há um tsunami sanitário que varre o planeta. Passará, mas deixará destruição incalculável, com milhares de mortes e uma economia a beira da depressão. Serão muitas empresas fechadas e empregos destruídos aos milhões. Segundo a OIT, cerca de 80% dos trabalhadores no mundo serão afetados com desemprego, queda nos salários, precarização, insegurança e desproteção social crescentes.

Diante disso, a primeira e mais importante recomendação: da melhor maneira possível, proteja a vida de todos. Difícil, ainda mais em um país governado por um presidente insano que frente a mais de mil mortes diárias diz: e daí? Por isso, produza e reforce todas as medidas para proteger a vida, buscando aliados para atingir esse objetivo. É hora da máxima solidariedade e cooperação e, apesar de estarmos isolados socialmente, devemos construir protocolos de proteção para evitar o aumento da propagação do vírus, impedindo o colapso do sistema de saúde, dotando-o de capacidade para atender aqueles que necessitam de atenção hospitalar. Considere que o mundo levará meses ou mais de ano para sair dessa crise sanitária. Será uma longa e dura jornada. Não desperdice energia humana e nem recursos. Invista no diálogo e na construção de alternativas. Dê exemplos.

Os sindicatos desenvolvem atividade essencial para enfrentar essa crise. A segunda recomendação: coloque o sindicato na condição de cumprir sua função essencial, que é o de ser um escudo coletivo para proteger a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, proteger os empregos e os salários, proteger os direitos laborais e sociais. Para essa crise não há saída individual, a única saída é cada um cuidar de todos. Salvaremos vidas juntos, com o outro. Sozinhos, pereceremos. Portanto, busque o diálogo com as lideranças comunitárias e populares, com os empresários, com os parlamentares, com os prefeitos e governadores, nas escolas, nos postos de saúde, nas igrejas, procurando criar e implantar medidas de proteção. Proteger as pessoas do contágio; proteger as empresas do fechamento e a manutenção do emprego; proteger os desempregados; proteger os mais frágeis, os pobres e miseráveis; proteger quem vive sozinho e quem cuida de crianças, idosos e doentes; proteger os desesperados e os deprimidos. Será preciso direção que articule e coordene ações, medidas, políticas que sejam capazes de conduzir a todos nessa dificílima travessia.

Ninguém tem certeza absoluta sobre o que se deve fazer. O problema é inédito, a extensão e o tamanho são incalculáveis, os riscos são extremos, a duração incerta, mas longa. Por isso, a terceira recomendação: informe-se bem e divulgue informação correta, que orienta. Nessa época de trevas, a mentira tem levado a desinformação e é responsável por milhares de mortes. Devemos nos orientar pela ciência, apostar na pesquisa e no trabalho de descoberta de remédios, de vacinas e guiar-nos pelas recomendações dos profissionais da saúde.

Quarta recomendação: ajude a cuidar das empresas. Parece estranho... Meio pelego, não? Mas há no Brasil 4,5 milhões de empresas e milhares, senão mais de milhão, desaparecerão, destruídas pelo travamento estrutural do sistema produtivo. Sem empresa não há emprego, nem salário, nem direito laboral. Atenção prioritária para as micro e pequenas empresas, mas com cuidado especial também para as médias e grandes. Como fazer? Negociem com os empresários e busquem soluções. Sigam juntos para interagir com parlamentares e governantes. Intransigentemente, busquem soluções, muitas parciais e provisórias. Diante das enormes dificuldades de diálogo, não desistam.

Proteger os empregos é a quinta recomendação. As medidas de curto prazo devem estar todas orientadas para a proteção dos empregos e da renda do trabalho. Caberá ao Estado fornecer os instrumentos essenciais, hoje o Abono Emergencial e as medidas para a Proteção dos Empregos e pagamento dos salários, entre outros. Crie e invente medidas, compartilhe experiências e aprenda com os outros.

Sexta recomendação: há maldade em todos os cantos, péssimos governantes, empresários inescrupulosos, dirigentes oportunistas. Mas a hora é de buscar pessoas solidárias, reunir-se em torno das proteções, convidar para somar, para mudar de posição, propor unidade e promover união. Não se decepcione com pessoas mal-intencionadas, elas existem e não são poucas. Fazem a guerra, difundem o ódio, tiram proveito, roubam e matam. Reúna aqueles que, neste período dramático, compreendem os desafios e se colocam dispostos a compartilhar a luta. Adversários reunidos diante uma condição de extrema adversidade e unidos pelo propósito de defender a vida e a saída da crise.

Como sétima recomendação, conduza as negociações coletivas considerando o contexto da adversidade que atinge a todos, empresas e trabalhadores. Muitas empresas e alguns setores poderão estar funcionando bem. Nestas, sabemos o que fazer. Mas, cuidado, elas podem ser um espaço de propagação do vírus. Proteja a vida de todos. Entretanto, a grande maioria das empresas e setores serão duramente afetados. Aqui a negociação será uma operação delicada, com o objetivo de preservar as empresas e os empregos. Caminhos perigosos exigem cuidados extremos, a travessia requer aliados e criatividade.

Cuidar do sindicato é a oitava recomendação. Considere que as transformações no mundo do trabalho que estavam em curso antes da pandemia e os efeitos devastadores desta, exigirão mudanças na organização e em todo o sistema sindical. Podemos abrir oportunidades para fazer renascer um sindicalismo conectado com os desafios desse novo mundo do trabalho e de ser capaz de nele atuar.

Olhe para frente, una, caminhe e reúna para lutar. Até quando? Sempre, porque lutar é o sentido da vida sindical.



[1] Sociólogo, técnico do DIEESE, assessor das Centrais Sindicais, professor e consultor.

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