Na lida e na vida!

Link PDF 

Clemente Ganz Lúcio[1]

 

Depois de 35 anos no DIEESE, dois quais 16 anos no cargo de Diretor Técnico, encerro meu mandato. Assim, haverá a saudável renovação na Direção, o que será fundamental para o DIEESE percorrer esse tempo de graves adversidades. Nos últimos três anos reestruturamos o Departamento para dotá-lo de capacidade para enfrentar os enormes desafios que passamos a vislumbrar e que, infelizmente, confirmaram-se. A renovação faz parte desse projeto de reestruturação, que agora entra em nova etapa.

A partir de hoje Fausto Augusto Junior assume o cargo de Diretor Técnico do DIEESE. Patrícia Pelatieri e José Silvestre do Prado estarão na nova Direção Técnica. Desejo sucesso pleno!

Nesse período der 2004 a 2019, nossa atuação coletiva buscou fortalecer a presença nacional do DIEESE com escritórios regionais, unidades locais e subseções. Expandimos as competências temáticas, o domínio sobre bases estatísticas e o conhecimento sobre políticas públicas.

Os múltiplos espaços de negociação, os fóruns institucionais e as conferências temáticas e setoriais foram espaços locais, regionais e nacionais de intervenção sindical para os quais o DIEESE orientou parte relevante da sua produção técnica.

A negociação coletiva ganhou novas complexidades em todos os níveis e para isso a produção técnica se voltou, a formação sindical ofereceu novos seminários e novos produtos e serviços foram desenvolvidos.

Muito temas assumiram a dimensão de campanhas, como o salário mínimo, a terceirização, a previdência social, a redução da jornada de trabalho, o trabalho decente, entre tantos outros. Para cada um foi desenvolvido uma produção técnica específica com pesquisas, estudos, notas técnicas, livros, cursos, seminários, debates, palestras e assessorias para os mais variados espaços de negociação.

As pesquisas permanentes (Cesta Básica, Índice de Custo de Vida, Pesquisa de Emprego e Desemprego, Pesquisas Sindicais, Salários, Acordos e Convenções, Greves) foram renovadas, inclusive metodologicamente, seus escopos revisados e algumas vezes ampliados.

O desenvolvimento de metodologias de diálogo social que integravam o diagnóstico de uma situação problema e a elaboração compartilhada de intervenção para a mudança social fizeram parte de inúmeras iniciativas, com resultados concretos e muito interessantes.

O resgate do fio condutor do nascimento do DIEESE resultou na deliberação de criar a Escola DIEESE de Ciências do Trabalho, na sua implantação e na formação das primeiras turmas do bacharelado. Reunimos o trabalho de educação na Escola.

As demandas de gestores públicos e a intervenção sindical nos espaços institucionais deram ensejo para que estruturássemos os Observatórios do Trabalho, entre outros, como resposta articulada do DIEESE aos temas das políticas públicas de emprego, trabalho e renda e ao desenvolvimento econômico e social aplicados no território ou setor.

Em 2015 a crise econômica dá sinais consistentes de sua gravidade e é transformada, pela crise política, em gravíssima recessão. O cenário desenhado em 2014 teve que ser revisto e mudamos a estratégia para um ajuste progressivo do tamanho do Departamento.

Em 2016 o impeachment da Presidente Dilma consolida os objetivos da oposição e o país passa progressivamente a orientar-se pela agenda neoliberal. Os ataques ao movimento sindical aumentam e o desmonte do Estado social começa a ser operado. A agenda temática é a mesma, ampla, mas com sinal trocado: agora vinha o desmonte. Continuamos o ajuste do tamanho do DIEESE adequando-o ao tamanho da receita e reorientamos a produção técnica para a resistência.

Em 2018 uma mudança radical emerge das urnas. O governo eleito anuncia uma agenda de ataque aos direitos civis e à liberdade, propugna valores retrógados e mobiliza a mais ampla agenda neoliberal para a economia. Os ataques ao movimento sindical e aos direitos do trabalho passam a ser diretos e em múltiplas frentes.

Esse novo quadro aflora em um contexto situacional de altas taxas de desemprego, de crescimento da informalidade e da precarização dos postos de trabalho. Há um processo de profundas mudanças tecnológicas no mundo do trabalho que promovem transformações inimagináveis nas ocupações. 

Mais um ajuste severo para uma estratégia de resistência prolongada. De um lado, adequando ainda mais o tamanho do Departamento. De outro lado, reorganizando os processos de trabalho e os produtos e serviços à capacidade real da equipe, visando atender às novas demandas do movimento sindical para resistir no longo prazo a essa ofensiva posta pelo novo governo.

Quadruplicamos a receita do DIEESE entre 2004 e 2011, distribuída em 60% sindical e 40% extrassindical. Produzimos cerca 27 mil estudos salariais, setoriais e temáticos. Com a Escola DIEESE realizamos 4,6 mil seminários e cursos e 6,3 mil palestras. A assessoria sindical, presente em grande parte do território nacional por meio dos escritórios regionais e subseções, assessoraram mais de 9 mil negociações coletivas, 18,5 mil reuniões sindicais e quase 1,8 mil assembleias sindicais.

São mais 16 anos de história que essa invenção sindical chamada DIEESE se mostra como uma criação de sucesso pela qualidade da sua produção técnica e pela capacidade de incidir na realidade, contribuindo para que o movimento sindical atue para melhorar a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Agradeço à toda equipe e direção sindical a dedicação e a qualidade do trabalho realizado.

Encerro hoje também a minha colaboração como Diretor Técnico no Repórter Sindical, há anos colaborando com esse excelente instrumento do movimento sindical que é a Agência Sindical. Saúdo toda a equipe da Agência, em especial João Franzin, esse camarada fascinante e bravo lutador. Muito obrigado pela oportunidade. Seguiremos juntos, na lida e na vida!



[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE.

Comentários