Talvez 2020 será menos ruim

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Clemente Ganz Lúcio[1]

 

            A gravíssima recessão de 2014/16 derrubou a economia brasileira e destruiu milhões de empregos. Cinco anos depois há no Brasil, segundo o IBGE, 12,4 milhões de desempregados, 4,2 milhões de desalentados, 12 milhões de trabalhadores assalariados sem carteira assinada, 24,5 milhões de trabalhadores por conta-própria, 24 milhões de subocupados, 65 milhões fora da força de trabalho. A precarização do mundo do trabalho ganhou hegemonia situacional e prospectiva. O que esperar para 2020?

            Será um ano no qual a economia brasileira rastejante e semi-estagnada de 2019 se transformará em um baixo crescimento em 2020! Nessa dinâmica e dada as características do crescimento em curso, há um estoque monumental de passivos econômicos e sociais que ficam cada vez mais distantes de serem superados.

            No mundo do trabalho haverá o aumento de empregos formais de baixa qualidade com salários ruins, emprego intermitente e com jornada parcial, postos de trabalho precários, etc. Poderão ser criados em torno de 800 mil novos postos com carteira assinada. Assalariamento sem carteira e trabalho autônomo continuarão em alta. Desemprego alto e superior a 11% com informalidade elevada. Salários crescerão levemente e novas ocupações promoverão o aumento discreto da massa salarial. Continuará havendo grande dificuldade para os sindicatos negociarem os salários e as condições de trabalho. 

            Há uma transformação quantitativa e qualitativa no mundo do trabalho, na dinâmica da oferta de postos de trabalho, seja pelas inovações tecnológicas, seja pelas mudanças promovida pela terceirização sem limites, pelas novas formas legais e precárias de contratação, e como consequência dos impactos da emergência climática. A mudança patrimonial das empresas públicas privatizadas e das empresas privadas vendidas avançam em reestruturações que promovem inovações que economizam empregos. Mulheres, negros e jovens continuarão sendo os mais afetados em termos de desigualdades e precarização.

            A qualidade dos empregos e dos postos de trabalho escafedeu-se no baixo dinamismo de uma econômica sem indústria, com pouco Estado, com minúsculo investimento e baixa demanda das famílias. Talvez 2020 revele a feição uma economia que muito enriquece a poucos e empobrece a maioria. Uma economia de uma sociedade sem justiça social, de um futuro sem esperança e de uma nação sem utopia.



[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE.

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