O sindicato do futuro

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Clemente Ganz Lúcio[1]

 

 

O mundo do trabalho está imerso em múltiplas, velozes e profundas transformações que abalam as estruturas do emprego e das ocupações existentes e exigem uma nova resposta organizativa e de lutas do movimento sindical. Nesse contexto emerge um novo trabalhador a partir das novas condições de trabalho, dos novos postos de trabalho, das novas profissões, dos empregos e ocupações que o sistema produtivo em transformação passa a criar. A maior parte, precários, inseguros e desprotegidos.

A resposta sindical exige mudanças criativas na organização, na estrutura e na prática sindical para fazer frente às transformações disruptivas no mundo do trabalho, no sistema de relações sindicais, de negociação coletiva e na proteção social promovida pela Estado.

Continua sendo essencial promover um sindicalismo altamente representativo da multiplicidade laboral presente no mundo do trabalho, com ampla base de representação do universo diversificado da classe trabalhadora, com capacidade de luta em cada contexto situacional, com amplo poder de mobilização para as diferentes lutas e com caráter unitário, com força social para o enfretamento e a transformação, com base social para a negociação e para a incidência institucional no espaço da democracia e do Estado Democrático de Direito.

A revolução tecnológica se expande para todo o processo produtivo. As novas máquinas com inteligência artificial são cada vez mais sofisticadas para substituir a força de trabalho humana na indústria, nos serviços, no comércio, na agricultura e no serviço público. Os empregos estão ameaçados e os postos de trabalho, que não forem extintos, não param de mudar.

Uma lógica capitalista distinta se articula com o mesmo objetivo de acumular lucro e riqueza, impondo uma nova etapa de mudanças ao mundo do trabalho, seja ampliando as possibilidades de substituição do trabalho vivo por trabalho morto (máquinas), seja reduzindo o poder organizativo do sistema sindical e o poder regulatório do sistema de relações e de trabalho. O sindicato é excluído e a empresa estabelece relação direta individualizada com o trabalhador, manipulando as inúmeras possibilidades de formas de contratação, de jornada, de remuneração e, preferencialmente, sem direitos definidos pelo Estado e pelo sindicato.

O grande desafio é criar, de maneira autônoma, a forma organizativa capaz de promover o protagonismo coletivo dos trabalhadores. Não se deve somente esperar pelas mudanças institucionais porque não virão ou, se vierem, podem ser contra os trabalhadores e os sindicatos. Também não é possível esperar porque o tempo histórico urge – é preciso agir e lutar. 

 



[1] Sociólogo, assessor do Fórum das Centrais Sindicais e ex-diretor técnico do Dieese (2004-2019).

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