Duas prioridades sindicais para o desenvolvimento (Poder 360)

 Link Poder 360



Duas prioridades sindicais para o desenvolvimento

 

Clemente Ganz Lúcio[1]

 

Com o novo governo está em construção no Brasil um conjunto de estratégias para o desenvolvimento nacional. Trata-se de conceber o crescimento econômico de forma a produzir resultados socioambientais que promovam boa qualidade de vida para todos e sustentabilidade ambiental. Objetivo simples e claro que mobiliza inúmeros desafios e requer estratégias complexas.

As Centrais Sindicais e suas entidades de base, sindicatos, federações e confederações, lançaram em abril de 2022 a Pauta da Classe Trabalhadora[2], documento que reúne 63 diretrizes para o desenvolvimento brasileiro. Agora trata-se de apresentá-las para o debate, visando construir acordos sociais e formular estratégias para implementá-las.

A primeira prioridade é promover inciativas que recoloquem o país em uma trajetória de crescimento econômico virtuoso, o que implica um plano que combine a sustentação da atividade produtiva através do investimento, da inovação, do incremento da produtividade e da agregação de valor com estratégias de geração de empregos, crescimento dos salários e superação da pobreza e das desigualdades.

A prioridade do crescimento exige a construção de entendimento político, fruto do diálogo social, sobre o que deve ser feito e sobre as mudanças a serem promovidas.

O desafio imediato é recolocar capacidade para o governo mobilizar e articular o setor produtivo (capital e trabalho) em torno de um projeto de desenvolvimento econômico e social, gerando respostas imediatas aos problemas que as empresas enfrentam. O desafio urgente e imediato é romper com as armadilhas dos juros e spreads altíssimos e das regras que travam os investimentos. É necessário fortalecer medidas ousadas de curto prazo com componham um plano de desenvolvimento que articule e coordene um projeto de desenvolvimento econômico e socioambiental para o país, enunciando objetivos, estratégias e ações que orientarão as iniciativas nesses próximos quatro anos.

Um plano direcionado para a produção e orientado pela indústria verde, pelo investimento em infraestrutura econômica e social, pela difusão de tecnologia e inovação, mobilizador dos vetores setoriais de expansão, que torne nossa economia competitiva, leia-se com capacidade real de exportação. Esse plano requer um ambiente macroeconômico amigável ao crescimento sustentado no tempo largo.

Como parte desse projeto, a segunda prioridade indicada a partir dos trabalhadores é de sintonizar o sistema de relações de trabalho para que organize o mundo do trabalho para essa nova dinâmica de produção, visando também à geração de empregos de qualidade e o crescimento dos salários. Além de estruturar a demanda interna, o sistema de relações de trabalho tem por objetivo tratar de todas as questões relacionadas aos trabalhadores, em termos de condições de trabalho, saúde e segurança, salários, benefícios e proteções. Trata-se de sintonizar um sistema que valoriza e fortalece a negociação coletiva em múltiplos âmbitos de negociação, realizada por entidades sindicais de ampla base de representação e alta representatividade, capazes de celebrar convenções e acordos coletivos que irão efetivamente reger as relações de trabalho.

Não se pode perder tempo. É urgente atuar. Não se pode ter medo. É urgente enfrentar. Não se pode titubear. É urgente reunir força política e avançar. A hora é agora!

 



[1] Sociólogo, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, consultor. Foi diretor técnico do DIEESE, coordenador do GT Trabalho da Equipe de Transição do Governo Lula/Alckmin, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, do Conselho de Altos Estudos do TCU – Tribunal de Contas da União, do Conselho de Administração do CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e do Conselho de Administração da Oxfam Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por que os jovens se distanciam dos sindicatos (Outras Palavras)

Proteção dos Trabalhadores em Plataformas Digitais na União Europeia: Principais Normas e Regras da Diretiva UE 2024/283 (RED)