Emprego, indústria e PIB sinalizam problemas (06/2022)

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Emprego, indústria e PIB sinalizam mais problemas

 

Clemente Ganz Lúcio[1]

            

Os indicadores divulgados na semana passada pelo IBGE (PIB, Desemprego e Indústria) sinalizam a vitalidade da dinâmica econômica: frágil, com baixo vigor, com a indústria travada, repondo com ocupações precárias e com queda dos rendimentos do trabalho os postos que foram fechados durante a pandemia.

            As atividades retomam em todos os setores produtivos após a interrupção das restrições sanitárias à mobilidade, dos cuidados básicos com aglomerações e do uso de máscaras. O fim da pandemia não ocorreu de fato, e isso está longe de acontecer, e essa flexibilização já repercute no aumento das internações e mortes.

O primeiro trimestre efetivou um crescimento econômico do PIB de 1% em relação ao trimestre anterior, puxado pela retomada das atividades paralisadas no setor de serviços, pelo consumo das famílias e pelas exportações. Esses três vetores não são capazes de dar a tração suficiente para sustentar o incremento da atividade econômica, ainda mais porque o arrocho da renda do trabalho debilita o consumo das famílias.

Se melhorou agora, vai piorar depois, isso porque as expectativas sobre o crescimento futuro chocam-se com um contexto situacional adverso em decorrência do cenário internacional (guerra, combustível, alimentos, insumos para agricultura e indústria), da carestia (o alto custo de vida de alimentos, energia, gás de cozinha, energia elétrica), da alta inflação (queda do salário real), da forte alta da taxa Selic que atua como severo freio adicional sobre a já lenta economia. A política econômica do governo confirma e favorece esse contexto, o que leva a vislumbrar a continuidade da letargia econômica que nos destrói.

As locomotivas que podem sustentar um crescimento econômico consistente estão debilitadas. De um lado, a indústria começa o ano sem tração e queda (-3,4%) nos primeiros meses, com impacto mais severo sobre a indústria de bens de capital e bens de consumo duráveis. O investimento produtivo em máquinas, construção e inovação teve contração de 7,2% se comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, representando uma taxa de investimento em relação ao PIB de 18,7%, bem abaixo da taxa de 25% considerada uma meta necessária para ampliar a capacidade produtiva do país.

Nesse quadro a taxa de desemprego recuou para 10,5% no trimestre encerrado em abril, mas ainda há um contingente de 11,3 milhões de desocupados. Os postos de trabalho fechados durante a pandemia foram retomados e a economia mobiliza a ocupação de cerca de 96,5 milhões de pessoas, das quais 35,2 milhões são assalariados com carteira de trabalho assinada (houve alta de 1,1% nesse contingente). Já os trabalhadores sem carteira assinada somam 12,5 milhões (estável), os trabalhadores por conta própria somam 25,5 milhões (estável). Do total de ocupados, 38,7 milhões estão na informalidade (aumento de 0,5%).

Essa dinâmica de reposição de boa parte dos postos de trabalho vem sendo acompanhada por uma queda no rendimento mensal real médio desde o início de 2020 da ordem de 13%. Isso é muito grave porque, mesmo com os mais de 8 milhões de empregos repostos no último ano, a massa de rendimentos não cresce.

Esse quadro indica que o país terá muitos problemas pela frente e que exigem estratégias para superá-los e que são intencionalmente inexistentes.



[1] Sociólogo, assessor do Fórum das Centrais Sindicais, ex-diretor técnico do DIEESE. (2clemente@uol.com.br).

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