Campanhas e os instrumentos de luta da classe trabalhadora

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Campanhas e os instrumentos de luta da classe trabalhadora

 

Clemente Ganz Lúcio[1]

 

Este semestre os trabalhadores brasileiros vivenciarão novamente três dimensões essenciais da luta que travam há dois séculos mundo afora: primeiro, a busca por melhores salários e condições de trabalho, objetivos reunidos nas pautas tratadas nas negociações coletivas das campanhas locais, setoriais e nacionais; segundo, garantir e promover, através da legislação e das políticas públicas, os direitos trabalhistas, previdenciários e sociais para todos, o que requer eleger governantes e legisladores que defendam os interesses dos trabalhadores; terceiro, proteger e garantir a democracia, suas instituições e regras, condição para a liberdade de expressão, de organização e de escolha.

Muitas categorias estão conduzindo neste semestre suas campanhas para as quais definem as pautas com reivindicações e propostas, organizam mobilizações, negociam muito, às vezes fazem greves, tendo como resultado a construção de acordos ou convenções coletivas de trabalho.

Em breve teremos eleições municipais para eleger vereadores/as e prefeitos/as. A campanha eleitoral em curso contará com a contribuição dos trabalhadores, das suas organizações e dos partidos, quando lideranças sindicais se apresentarão com suas plataformas e buscarão se eleger para o poder executivo ou legislativo municipal. Elegermos bons representantes do mundo do trabalho para o poder executivo e legislativo municipal é tarefa essencial.

Esses são dois ricos processos essenciais para a vida democrática do nosso país. Por isso mesmo, têm sido duramente atacados em nossa sociedade por aqueles que buscam fragilizar nosso Estado Democrático de Direito.

O processo histórico em curso continua engendrando os meandros da longa trajetória de luta da classe trabalhadora que vem desde o século XIX, na esteira da industrialização e da urbanização. Foi a partir das lutas, e para promovê-las, que a classe trabalhadora criou os sindicatos e suas estruturas verticais (federações, confederações, centrais).

Também foi na luta por direitos e pela participação na vida coletiva, pública e política, na busca por direitos iguais, pela liberdade, pelo direito de representação e de exercer o governo do Estado que a classe trabalhadora criou partidos políticos, com os quais lutaram para instaurar as democracia modernas.

Nessa longa trajetória de quase dois séculos de lutas, promover e preservar a democracia tem sido uma prioridade para a classe trabalhadora. A luta pelo voto livre, universal, secreto e igual também está na origem das lutas sindicais. No século XVIII e XIX, partidos e o voto já existiam. Porém, “todos podiam votar” desde que fossem homens, brancos, com uma renda alta e possuir muito patrimônio. Partidos, somente aqueles que representavam a classe dominante.

A democracia não é uma dádiva, nem é natural, muito menos está assegurada de forma perene. O sabemos pelo que vivemos recentemente no país. Os trabalhadores foram decisivos para a conformação da democracia moderna e foram protagonistas ao criarem os partidos que representavam seus interesses, como os partidos socialdemocratas, trabalhistas, socialistas e comunistas.

O desafio para a esquerda ou para o campo democrático-popular tem sido o de como promover a democracia e as transformações estruturais em uma sociedade desigual do ponto de vista econômico, social e político. As inúmeras respostas, suas contradições e visões marcam disputas intensas e rupturas históricas no seio da classe trabalhadora.

Lutar por melhores salários, por condições de trabalho dignas, pelo limite da jornada de trabalho, proibir o trabalho infantil e o trabalho escravizado, pela proteção em termos de saúde e segurança, contra todas as formas de assédio, pela proteção previdenciária, pelo transporte coletivo, pelo direito a moradia e ao saneamento, são pautas dos sindicatos, dos movimentos populares e dos partidos que continuam a mobilizar as várias esferas da luta social e política.

 



[1] Sociólogo, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, membro do CDESS – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República, membro do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, consultor e ex-diretor técnico do DIEESE (2004/2020).

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