DIEESE: resistir com o movimento.
DIEESE: resistir com o movimento.
Clemente Ganz Lúcio[1]
O DIEESE é uma criação do sindicalismo brasileiro da
década de 1950, período em que o Brasil criava grandes instituições para
promover o desenvolvimento da nação (Petrobras, BNDES, entre outros). Planejamento
estratégico, visão de futuro e de desenvolvimento mobilizavam a história do
país, o que hoje é somente passado.
O DIEESE se formou como uma livre associação de
entidades sindicais que, de maneira solidária, investiram e investem nesta organização
para que ela produza pesquisas, elabore estudos, preste assessoria e desenvolva
formação. Uma decisão política ousada criou uma instituição intersindical e
unitária que reúne, de maneira cooperada e racional, os recursos financeiros
para produzir competência técnica a serviço dos trabalhadores. A reunião dessas
entidades possibilitou a geração e a expansão de conhecimento de alto valor,
que possui credibilidade em toda a sociedade. Conhecimento científico, a partir
da ótica dos trabalhadores, que contribuiu com a fundamentação técnica e
argumentação do movimento sindical e tem permitido, ao longo da história, que a
classe trabalhadora se contraponha a dados improcedentes, usados em
determinadas conjunturas para manipular a população. Trabalho que, de certa
forma, tem ajudado a difundir na sociedade informação crítica, olhar sobre a
diversidade e visão de mundo a partir de outras perspectivas, enriquecendo o
debate e fortalecendo a luta sindical.
A credibilidade é uma construção permanente que se
renova a cada dia, com o rigoroso processo de produção, as pesquisas e a análise
crítica fundamentada. O DIEESE também se caracteriza por ser uma instituição que
produz conhecimento para a intervenção social do movimento sindical.
A sociedade e o capitalismo passam por grandes
mudanças. O sistema produtivo se transforma com a globalização econômica e com
o comando do sistema financeiro sobre as empresas; o ganho rentista e do
investidor transforma a lógica do investimento e da acumulação da riqueza; as
novas tecnologias aceleram a produção e concentração da renda e desempregam
trabalhadores; as desigualdades aumentam, a pobreza reaparece, a precarização
do trabalho se expande; as instituições do sistema democrático são
fragilizadas; o voto universal é constrangido.
No mundo, a reforma do sistema de relações laborais
flexibiliza as formas de contratação e de jornada, cria condições para a redução
do custo do trabalho, dos direitos e sistemas protetivos, facilita a demissão e
reduz os custos das dispensas, inibe a formação de passivos trabalhistas para
as empresas e fragiliza a atuação dos sindicatos.
Essas mudanças, com forte componente regressivo,
exigirão que a luta social seja profundamente repensada. Será preciso recorrer aos
clássicos para inventar novas formas de luta capazes de recolocar a dinâmica
social na direção da igualdade, da liberdade, da justiça e solidariedade.
A reinvenção do movimento sindical precisa buscar os
fundamentos da organização de base, da capacidade de diálogo desde o local de
trabalho, do permanente investimento em formação, do uso otimizado dos recursos
financeiros e patrimoniais dos trabalhadores, da remodelagem de estruturas e
serviços, para a luta social, e da disputa ideológica, entre outras inciativas.
O DIEESE também deverá se reinventar a partir do que está na sua constituição.
A primeira prioridade do DIEESE é reorganizar o
trabalho de assessoria e atendimento para chegar a todo o movimento sindical e
ajudá-lo a repensar as ações, planejar as negociações coletivas, produzindo
estudos, disponibilizando informação e conhecimento no atendimento direito ou
por meio da internet.
A segunda prioridade é o investimento em formação,
direcionada para entender as mudanças em curso e formas de desenvolver
resistência, mudança e avanço.
A terceira prioridade será produzir conhecimento –
pesquisa e estudos – sobre a precarização do trabalho.
Essa estratégia inclui ampliar a participação das
entidades sindicais no DIEESE, investir mais na cooperação com outras
organizações e profissionais e melhorar a capacidade de captação de recursos
financeiros.
Será preciso
mudar o DIEESE para aprimorar aquilo que constitui a entidade desde sempre, e
intensificar atividades, no contexto das adversidades e dos desafios atuais,
para ajudar o movimento sindical em suas lutas.
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